Aspectos Históricos
No meio do estado da Bahia, encravada na Chapada Diamantina, está Ipupiara, uma cidade cercada de histórias, cultura, política e religiosidade. Conhecida como “a terra do trabalho e da felicidade”, teve seu início numa pequena fazenda.
O povoamento de seu território remonta ao século XVIII, quando, assim como em outros municípios da região, jazidas carboníferas e auríferas eram exploradas. Um dos primeiros exploradores da região foi o português, residente em Salvador, Romão Gramacho, que num primeiro momento, ainda no século XVIII, chamou aquela região de riquezas pelo nome de Caiambola (COSTA, 2002).
O lugar que deu início a Ipupiara atual, não passava, antes mesmo da chegada de Gramacho, no século XVIII, de uma fazenda, que por intermédio do mesmo foi arrendada pelo senhor Carlos Rodrigues de Araújo Barreto. O desenvolvimento daquela comunidade acontecia na mesma intensidade que seus nomes se modificavam. O que era uma mera fazenda, aos poucos, foi criando requintes de uma comunidade organizada, com a presença de distrito policial, juizado de paz, até mesmo agência postal. Tudo isto, muito antes da década de 30 do século XX. Algumas dessas conquistas só ocorreram após Jordão, nome de Ipupiara na época, ser oficialmente reconhecida como Distrito subordinado a Brotas de Macaúbas pela lei estadual nº 1250, de 15 de Julho de 1918*. Esta data, inclusive, é considerada a de fundação oficial da cidade, mesmo que quase nunca comemorada e sem tanta importância quanto a de sua emancipação. (GUTIA, 2014).
Segundo registros no livro Ipupiara e Ibipetum: história de lutas na Chapada Diamantina, do autor ipupiarense Arides Leite Santos, o Sr. Carlos Rodrigues de Araújo Barreto, por intermédio de Romão Gramacho Falcão, arrendou uma fazenda denominada “Fundão”, que pertencia aos herdeiros de um tal Conde da Ponte. Nesta fazenda, surgiu o então povoado de Fundão, por volta de 1847. (SANTOS, 2015)
Mais tarde, em 1882, foi edificada a capela de São João Batista. Em 1906, a pequena vila passou a ser conhecida como Fortaleza de São João, sendo criado o primeiro distrito policial. Cinco anos depois, em 1911, recebeu o nome de Jordão, sendo implantado o Juizado de Paz. No ano seguinte, 1912 foi inaugurada a Agência Postal e Telégrafo, cujo primeiro funcionário foi o Sr. José dos Santos. Em 1943, por força do Decreto-Lei estadual 141, o topônimo Jordão foi substituído por Ipupiara. (2015, apud COSTA, 2002).
Até 1958, pertencia ao município de Brotas de Macaúbas. Em 9 de agosto de 1958, foi emancipado pela lei 1.015.
Possui dois distritosː o de Ipupiara (sede) e o de Ibipetum, onde estão distribuídos mais de 70 povoados e alguns importantes aglomerados, como Sodrelândia, Pintada, Bela Sombra, Riacho das Telhas, Lagoa da Boa Vista, Pé de Serra, Baixa dos Marques, Coxinho, Vanique, Lagoa de Prudente, dentre outros.
Não dar pra negar a presença dos indígenas na história deste município. Em todas as direções do município, notam-se as passagens dos povos indígenas. Nas grutas, cavernas e paredões pode-se dizer que se constituiu um verdadeiro sítio de artes rupestres, com destaque para as comunidade de Santo Antônio, Mata de Verissimo, Pintada e Pedra da Solta.
Na história de Ipupiara, a presença de dois grandes personagens é motivo de lendas e causos, são eles os coronéis Horácio e Militão. Enquanto Ipupiara era um lugar que abrigava uma fazenda perdida nas terras do sertão, os coronéis representavam uma elite política de grande poder e posses na região, eles eram a autoridade, e quem ousasse desafiá-los corria sérios riscos. Enquanto a condição de vida do sertanejo era precária, o coronel fazia sua caridade, a troco de exercer seu poder e prestígio político, tendo inúmeros seguidores que lhe obedeciam a seu bel prazer. É nesse contexto que Horácio e Militão crescem e desenvolvem suas práticas políticas. (GUTIA, 2014)
Ipupiara e Ibipetum estavam no meio do fogo cruzado quando ocorreu a guerra do sertão, nas contendas de Horácio e Militão, em 1919, exatamente na metade do caminho entre as duas cidades. Na época, dizia-se assim: a Chapada Velha (de Brotas até Ipupiara) é de Horácio e a Chapada Nova (de Ipupiara até Barra do Mendes) é de Militão.
Foi em Ipupiara, no povoado de Pintada, no distrito de Ibipetum, que foram assassinados, pela ditadura militar, em 17 de setembro de 1971, o capitão do exército Carlo Lamarca e José Campos Barreto (Zequinha), filho da região, nascido em Buriti Cristalino, em Brotas de Macaúbas. Em homenagem aos dois, Pintada possui a praça Capitão Carlos Lamarca e o Memorial dos Mártires.
O seu slogan “trabalho e felicidade” refere-se a um povo que ainda luta para se desenvolver em muitos aspectos, mas busca no trabalho e na felicidade, de acordo com sua concepção, as armas para superar desafios e conquistar benefícios.
E como bem conclui Santos, 2015:
“Espiritual, poético, religioso, político, são adjetivos que seguramente expressam qualidades intrínsecas ao homem ou mulher nascido e criado nas entranhas da Chapada Diamantina, gente que se move por um forte sentimento de autoctonia, sempre animado em busca do divino, evocando reminiscências de lugares transcendentais, imaginando viver em uma “pátria celestial”. De gente assim as comunidades de Ipupiara e Ibipetum se formaram e se desenvolvem em sucessivas gerações” (SANTOS, 2015, p. 110)
A história continua se desenvolvendo a cada dia de mãos dadas com a educação, que cada ano escreve mais um capítulo desta cidade encravada no meio da Chapada Diamantina.